Perspectivas da Química Computacional

Laboratórios e batas brancas. Destiladores, tubos de ensaio, buretas e provetas. Ácidos, bases e sais. Fumarolas, cores e odores. Sínteses e análises. Tintas, vernizes, detergentes e plásticos. Alimentos e medicamentos. Células biológicas, vírus e bactérias. Eléctrodos, baterias e sensores. Fórmulas e modelos moleculares. Arte e geometria. Átomos e moléculas em movimento. Indústrias química, agroquímica e farmacêutica. Cisões e fusões nucleares. Estrelas, cometas, e planetas. Internet, semi-condutores e computadores. Agatha Christie e Conan Doyle.

Estas são realidades onde a Química está sempre presente. A sua vasta área é de importância crucial desde a escala atómica à galáctica, contribuindo para desvendar os mecanismos da Natureza, e para a saúde, bem-estar e progresso do ecosistema.

Contudo, em alguns meios sociais ainda surge, por vezes, a ideia de que os químicos andam nos laboratórios a misturar reagentes e a usar computadores, em lucubrações teóricas e tentativas de descobrir o “elixir da longa vida”, ou a inventar bombas e outros produtos letais que levarão à destruição da Humanidade.

Esta imagem alquímica, guerreira e poluente é irreal. Urge rebatê-la, combatendo a subjacente iliteracia científica.

Os cientistas são, em geral, ética e profissionalmente responsáveis, embora muitas vezes ultrapassados por decisões políticas irreflectidas ou ambiciosas. Qualquer actividade científico-tecnológica que busque a inovação pode ter o “reverso da medalha”. Contudo, somente os cientistas e técnicos, com os seus conhecimentos e métodos, podem corrigir consequências menos positivas que eventualmente surjam. Investir em ciência e tecnologia (e humanidades, sublinhe-se), com critérios justificados e dando efectivas oportunidades às gerações mais novas, é o caminho para o progresso saudável da Sociedade.


Autor: Fernando M.S. Silva Fernandes
Morada: Centro de Ciências Moleculares e Materiais (CCMM)
Departamento de Química e Bioquímica (DQB), Faculdade de Ciências (FC), Universidade de Lisboa (UL)
Publicado em: "Química, Boletim da Sociedade Portuguesa de Química, 123, 47-53, 2011"
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Publicado/editado: 22/12/2011